segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A avó R.

Eu vivi uma infância feliz. Recordo muitos dos momentos, com os avós.
Que sempre me pareçam que viveriam para sempre. Os avós brincam sempre connosco, mesmo quando já somos grandes e fazem sempre a nossa comida favorita.
E a minha R. fez-me os melhores bitoques que comi na vida. E assava as melhores castanhas. E leva-me para brincar no casal com a mana e as primas. E conversava muito comigo. E ela, sem sabre ler e escrever, ensinou-me tanta coisa. E tinha e ainda tem, sempre gatos.
Lembro de brincar em casa da avó, no escritório cheio de coisas que não se podia mexer, as canetas, os papéis do avô, as borrachas que eu gostava tanto, o globo cheio de desenhos que eu ainda não sabia que eram países que mais tarde ia visitar. O quarto que era do pai e do tio, tinha sempre um boneco que podíamos brincar. E no armário da sala haviam sempre caixas com bolos. E durante muitos anos, o telefone fazia RING RING e era preto e tinhamos de rodar os numeros.
E no Carnaval, fazia sempre filhoses e eu e a mana íamos ajudar, a pôr açucar e canela. Nunca mais comemos filhoses tão boas.
E avó dava-me sempre 100 escudos para ir comprar um gelado e pedia-me sempre um Super Max para ela, é o gelado favorito dela.
E no Natal e nos anos, avó era sempre a primeira a dar o envelope às netas e não queria saber onde o gastávamos, queria era que fossemos felizes.
E aos Domingos acordavamos cedo para almoçar fora, no "Maneta" ou nos "Viveiros do Atlantico", o avô obrigava-nos a levantar ás 8h para irmos para a Ericeira cedo. E era sempre uma aventura.
E foi em casa da avó que brinquei aos médicos com a mana e descobri que sabia dar injecções, e foi em casa da avó que bebi lixivia, e foi em casa da avó que tomei comprimidos a pensar que era smarties.
E foi em casa da avó, naquele quarto sempre igual com a colcha branca que mais sofri quando a visitei este Sábado. Naquela casa de avó, que cheira a avó, onde me vejo a brincar com a mana. Naquela casa. Naquele quarto de colcha branca.
E este Sábado foi o primeiro estalo que levei que me doeu, porque foi a primeira vez que vi de facto a realidade. E sentei-me na colcha branca do quarto sempre igual da avó e tentei que ela se lembrasse comigo como já fomos felizes ali. E fui embora. Mas não fui.

Something filled up my heart with nothing and someone told me not to cry.

2 comentários:

Eu disse...

:(

Xana disse...

Beijo às duas. Eu também acho essa avó uma ternura. Tem sempre uns olhos tão sorridentes. :)