Eufemismos àparte e atenuando a verdade catastrófica, sempre fui uma dog person, estar sempre lá de rabo a abanar á espera, demorasse horas ou dias, levasse com o jornal ou com pontapés no lombo. E estar sempre de sorriso na cara, de cara bem lavada, de olhos limpos e sem margem de manobra para qualquer tipo de olheiras. Não importava se estava em ferida por dentro, se estava em êxtase de salvação, em total carência de uma festa pela cara. Não importava. Nada. Ser uma dog person é isto, dar o outro lado da cara para a próxima estalada sem mão, e a seguir abanar o rabo, de contentamento, afinal não foi um estalo qualquer, era um estalo do dono, do mestre, do deus, que tanto me alimentava até rebentar, como me deixava a passar fome dias a fio. Água sempre me deixou, até porque convém não matar o animal, porque de vez em quando sabe bem chegar a casa e ter a cara lambida de felicidade.
Hoje em dia, não espero dias a fio com fome, nem fico à espera da próxima estalada. Hoje em dia sou uma cat lover, aproximo-me com patas de lã. Não espero que me alimentem. Não abano o rabo. Nem espero que abram a porta para o próximo passeio. Hoje dia, fico sentada no sofá à espera que se aproximem, e sempre que me apertam parto para apanhar sol noutro sitio qualquer, até que alguém me prenda num quarto, em cima da cama, sem cordas nem amarras.
De cães para gatos e gatos para cães.
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